segunda-feira, 7 de abril de 2008

A dança da cadeira

Eu? Faço cadeiras.
Cadeiras como esta.
Boa, sólida, confortável.
Sou eu que a faço.
Só eu que a faço?
Não! Somos muitos! Uma equipa!
Na verdade eu aperto um parafuso.
Um parafuso da cadeira.
Sei cortar madeira?
Não é preciso, já vem cortada...
Estofar a cadeira?
Não é preciso já vem estofada!
Montar a cadeira?
Não. Sei qual é o meu lugar!
Aparafusar, isso sim.
Aparafuso como ninguém.
Aí sou único!
Bom, único não, único não sou.
Eu ponho um parafuso,
a cadeira leva doze...
sou um numa dúzia.
Aperto parafusos,
todo o dia parafusos,
parafusos, parafusos,
o mesmo parafuso,
o raio do parafuso
todo o dia o parafuso
todo o mês o parafuso,
todo o ano, todos os anos
o mesmo parafuso apertado
os dias em parafuso,
sentado numa cadeira
que não sei como se faz.

Fala-se que para o ano
vem aí uma máquina
que aperta parafusos
tão bem ou melhor
em metade do tempo
todos ao mesmo tempo.
Se assim fôr, que vou fazer?
Eu que não sei fazer nada,
nem cadeiras sei fazer
e faço-as há tantos anos...
Parafusos à máquina, sinceramente...
Aparafusar é uma arte!
A alma da cadeira, os parafusos!
Se estão lassos tudo estala, tudo dança,
não há segurança,
e um homem precisa saber onde se senta
sentir solidez debaixo do corpo.
Experimente, sente-se!
Sou eu que as faço!
Boa, sólida, confortável,
sou eu que a faço:
a cadeira da minha vida.