quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Encontro Doppler

Primeiro a ânsia, a curiosidade,

a espera.

A espera dos dias.

As horas de espera.

A sala de espera.

Como se pode ter saudades de quem não se conheceu?



Tic-tac-tic-tac-tic-tac



No silêncio enternetecido o eco de um som,

rápido e repetido.

Coração de pássaro,

pulsar da Terra.



Tic-tieu-tic-tieu-tic-teu



Todo o tempo liquefeito,

os segundos transmudados

por aquele diapasão:



Tieu-tieu-tieu-tieu-tieu-tieu



E naquele ritmo fugaz , escondido espreita

o próprio sentido da eternidade.





P.S. - Este poema é obviamente uma derivação do anterior "À espera". Foi escrito a pensar numa amiga, que está de esperanças, a propósito da sua primeira ecografia. A base de que parti foi a minha própria experiência de estar grávido, e em particular o som que aqui se pode ouvir. Este som ficou para sempre marcado em mim, de tal forma que basta invocá-lo à memória para imediatamente o ouvir. O primeiro som de um filho. Obviamente, como se pode ouvir no vídeo, a primeira frase deste texto foi composta naquele dia: coração de passarinho.
Normalmente gosto de de simplificar os meus textos: o normal será que perca progressivamente expressões, que apure conceitos, que lime arestas que depure.
Mas neste caso não estava inteiramente satisfeito. Curiosamente, quanto mais alterava o texto mais tinha pena de perder o anterior. Por isso ficam os dois.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Á espera.

No silêncio enternetecido o eco de um som,
rápido e repetido.
Coração de pássaro.

Quem disse que a eternidade
se media em tic-tac?